quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

[Conto] Pagão (parte VIII)

Dia.

Passou a noite transitando entre a vigília e o cochilo.

O zumbido.
O zumbido continua, sempre o mesmo som, sempre à mesma distancia.

Sai do carro.
12:00.
Bússola sempre morta.

Olha à sua frente.
Vazio.

Olha por onde veio.
Nada.

Sanidade rasgando. Precisa de alguem. Precisa de uma voz.

Mas ele tem o zumbido.

Segue em frente. Uma sombra acena da janela de um prédio. Some.
Não entende por que elas fazem isso. Nunca entendeu.

Seu corpo dói.

Está perdido.

Não.

É perdido.

Mas segue andando.

Asfalto quebrado rasgando pouco a pouco a sola dos seus pés.
Dor.
Sangue.
Mas continua.

Precisa achar um rosto.
Precisa de um olhar.

Fome.
Já se acostumou.
Já se conformou.

O zumbido.
Pelo ar. Pelo sol. Pelo céu. Pelo asfalto. Pelos prédios.

O zumbido.
Como queria que fossem vozes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Consigo pensar em poucas coisas além de AGONIA para caracterizar esse capítulo.