domingo, 7 de fevereiro de 2010

[Conto] Pagão (parte IV)

Tudo escuro.

Está perdido dentro do prédio abandonado. Toda iluminação ficou do lado de fora, junto com o nada e o vazio que transbordam das ruas.

Não sabe se está perto de uma saída, não sabe se há pessoas ali dentro (provavelmente não, como no resto da cidade), mas continua seguindo em frente. Não há nada para que voltar.

Anda por mais um corredor de portas fechadas e vazias. Nada se move.
Começa a achar que deveria ter ficado na rua.
Começa a achar que deveria morrer.

Ele continua em frente por mais outro corredor vazio.
E mais outro.
E mais outro.

Não tem mais noção de nada, apenas segue em frente. Desnorteado, perdido, cego, surdo, mudo, calado, abandonado.
Mas não deve se esquecer de que foi ele quem abandonou.

Silêncio que explode em seu cérebro. Precisa urgentemente conversar.

Continua por mais um corredor e, para sua felicidade (ou não), vê que há uma porta aberta, levemente iluminada pelo clarão cinza do sol.

Seus batimentos aceleram, as pupilas contraem, o cérebro entra em curto.
- Alguem!
Corre, frenético, para o apartamento.

Decepção.

Não há ninguem, apenas uma janela aberta e uma mesinha de canto.

Imerso em raiva e angústia ele consegue perceber um pequeno objeto sob a superfície bem polida da mesinha.

Uma bússola.

Uma bússola quebrada. Ela não aponta para o norte, mas sim para o corpo dele.

Decide mantê-la. É algo para se apegar, pelo menos.

Sai do quarto e mergulha outra vez na escuridão do prédio, em busca de uma saida.

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