quarta-feira, 24 de outubro de 2012
E os heróis se fizeram carrascos... Só que não.
sábado, 15 de setembro de 2012
Crônicas do Esquecimento #3: Lampião a Gás
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Crônicas do Esquecimento #2: Ecos
“Não importa que tenhamos chegado aqui se todos amos morrer de fome, sede ou asfixia! Temos de tentar consertar nossos sistemas de sobrevivência!” insistia um de seus colegas.
Mas nada havia para ser consertado.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Crônicas do Esquecimento #1: Linha de Montagem
domingo, 12 de agosto de 2012
Crônicas do Esquecimento
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Soneto da Controvérsia
sábado, 14 de julho de 2012
Simulacro
domingo, 24 de junho de 2012
Uma carta
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Um Lapso Momentâneo de Razão
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Crônicas de uma Realidade: Ultimos Momentos de uma Velha Existência
sábado, 12 de maio de 2012
Crônicas de uma Realidade: Caos
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Crônicas de uma Realidade: Oblívio #2
domingo, 15 de abril de 2012
Crônicas de uma Realidade: Oblívio #1
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Crônicas de uma Realidade: Dois Velhos Conhecidos
O sol pintava os pilares com tons alaranjados do crepúsculo. Uma brisa fresca e agradável passeava pelo bosque.
O Tempo observava com uma paciência infinita o sol se movimentando no firmamento. Haviam alguns meses que não conseguia dormir, que não conseguia ter um minuto sequer de descanso. Desde que aquelas vozes desconhecidas começaram a habitar sua cabeça sua vida havia mudado.
No início havia somente o silêncio e a contemplação, a certeza da existência plena e, de alguma forma, supunha, soberana. Não conseguia se lembrar de nada antes disso, mas sabia que existira desde sempre e existiria para sempre.
Até que, de maneira inesperada e violenta, uma torrente de vozes, pequenas formigas, invadiu seus pensamentos, suas ideias, sua vida, levando-o quase à loucura. Milhares, não, milhões de pequenas vozes indistintas que pareciam lhe perguntar: “quem é você? De onde vem? Para onde nos leva?”.
Ainda não conseguia descansar, não conseguia dormir. O peso da dúvida das pequenas vozes o mantinha preso ao chão, inerte na sua posição de contemplação infinita.
- Ora, pois que vemos um pequeno projeto de deus! Já tão cheio de pretensões, de conjecturas! Tão igualmente deslocado, desconhecido! – disse uma voz de velho atrás dele.
Com o susto, o pequeno Tempo, o Passado, deu um salto amedrontado. Como alguém ousa falar assim com ele? Haveria de exigir o devido respeito daquele desconhecido!
Mas não era um, eram dois. Suas sombras se alongavam, se encontravam e se estendiam até os pés do Passado. Seu olhar de terror era claro, se reconhecia naquelas duas figuras ali presentes. O Presente sentiu de repente uma estranha coceira dentro do crânio acompanhada de uma fala: “Quem são vocês? O que querem? Como chegaram aqui? Me deixem sozinho!”
- Quem são vocês? O que querem? Como chegaram aqui? – indagou o pequeno Passado. Deu dois passos acuados para trás - Me deixem sozinho!
Presente e Futuro, ao ver aquela cena patética, gargalharam. O primeiro como um tio fanfarrão, o segundo como um moribundo piadista. Não podiam deixar de rir ante aquela caricatura desengonçada, necessitada de autoafirmação.
- Quem são voc-
- Shh rapaz! – disse o velho.
- Olhe para nós e responda: o que somos? – disse o adulto.
Ambos já sabiam que, a essa altura, ele já os havia identificado, mas sabiam também, ou melhor, lembravam, que ele negaria seu conhecimento, que tentaria, de alguma forma expulsá-los de lá, de seu presente, do passado deles.
- Não os conheço, não os reconheço. – virou-se – Vão embora!
Futuro andou em direção àquela figura jovem e insegura, atormentada por milhões de vozes em sua cabeça. Passado, de costas para suas faces mais velhas, só percebeu a aproximação do Futuro quando este já o agarrava pela cabeça com suas mãos decadentes, mas fortes.
- Olhe! – e, de maneira inesperada, o novo cedeu ao velho e então aconteceu.
O encontro dos três Tempos, o chamado do oblívio.
sexta-feira, 30 de março de 2012
Crônicas de uma Realidade: Na Esfera
Ele corria. Sujo, ensanguentado, a ferida recém-cicatrizada em suas costas latejando, esfomeado, sem esperança. E ele corria.
As crianças o seguiam num misto de terror e fascinação, sem hesitar, sem olhar pra trás. Se tudo o que encontrariam seriam as mesmas certezas das cinzas, por que desviar o olhar do perigoso e incerto caminho adiante?
Tudo queimava, o ar feria os pulmões. Como tudo se deteriorou tão depressa?
Não havia mais cidades, não havia mais Estado, não havia mais civilização, mas ainda assim a guerra continuava. Era a incrível batalha para decidir quem morreria por ultimo.
Se ele não corresse com certeza não seria seu pequeno grupo. Tinha que achar algum abrigo em meio àquele terreno devastado e estéril. Fugiam há dias e a comida era mínima. Na primeira semana duas crianças morreram de cansaço e fome.
Foi surreal. Tudo é surreal.
Olhar para o passado e ver tudo se repetindo não exatamente da mesma maneira, mas com características bastante semelhantes. Foi como ler um livro e no dia seguinte perceber que aquilo não era apenas uma história, mas a realidade, mais objetiva do que jamais fora, palpável e palatável a qualquer um.
Um corvo bicando a carne podre de um imenso e global cadáver.
A noite se fundia com o dia, as chamas sempre ardendo, o céu sempre escuro, uma pintura de fumaça. De acordo com seu relógio seriam 4:30, mas da tarde ou da madrugada?
Andavam e andavam e andavam. Sob seus pés as cinzas, sobre suas cabeças a fumaça, ao seu redor as chamas, ultimo suspiro de um mundo que já fora criança. Suor, sangue e saliva se misturavam numa miscelânea de fluidos corporais.
Agora já não mais se nascia, apenas se morria.
Ainda podiam ser ouvidas bombas sendo detonadas aqui e ali. Continuação de algo que já perdeu todo o sentido há muito tempo.
Andavam, andavam e andavam, mas tudo o que encontravam era cinzas, fogo e fumaça.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Crônicas de uma Realidade: Utopia e Distopia
Chovia já há algum tempo. Os relâmpagos cortavam o firmamento e circundavam a esfera azul lá encima.
Havia na atmosfera algo de apocalíptico e sórdido, como se as regras estivessem sido apagadas e esquecidas, levando-as a uma não existência, destruindo e propiciando uma recriação. Eventos demasiadamente estranhos antecederam esse início de oblívio: uma explosão de luz envolveu os pilares, a esfera pintou-se subitamente de rosas escarlate e as nuvens começaram a cair.
Agora tudo era permitido.
Utopia corria. A chuva batendo pesadamente em seu rosto, suas roupas encharcadas. Quem primeiro chegasse aos pilares seria o mestre da esfera, seria indestrutível e absoluto.
Já era hora de estabelecer sua vontade. Todos aqueles seres inferiores que habitavam a enorme bola azul lá encima aprenderiam a viver em paz constante, em comunidade, em cooperação. Aprenderiam que não mais se deve competir, que deve-se contentar com o que se tem, que é inútil e ineficaz produzir tanto para depois destruir tudo. Ergueriam templos de harmonia, seriam todos, enfim, irmãos.
Viveriam todos sob suas leis e regras.
Por decreto seu estariam abolidos o mérito e a lei de causa e efeito, duas antagonistas no processo de homogeneização dos minúsculos seres lá encima. Decerto seus dois principais obstáculos impostos pela Realidade.
Mas agora que tudo havia mudado...
Por isso corria como se não houvesse amanhã. Seria ela a chegar primeiro nos pilares e a conquistar a esfera. Seria ela a única dona de tudo.
Desviava de árvores, pulava arbustos e saltava buracos e pequenas depressões, até que algo a derrubou.
Um vento frio de chuva fez-se sentir. Havia alguém ali, alguma entidade então completamente desconhecida e poderosa o suficiente para derrubá-la em sua corrida. Por instantes a única coisa presente foi a claridade escura das nuvens carregadas.
Então ela se revelou.
Nua e esquálida, carregando na face a morte desossada, a mulher a olhava de cima de um galho de árvore. Tinha na mão esquerda um punhal.
Utopia imediatamente sentou-se e olhou para aquela desconhecida que ousara interromper seu progresso. Entre os dentes cerrados rosnou um “quem é você?!”. A estranha, entretanto, limitou-se a descer da árvore e colocar-se diante de si. Olhada de perto sua figura era ainda mais mórbida: além da magreza doentia agora podia-se também observar as feridas abertas, algumas gangrenadas e infestadas de vermes, por todo o seu corpo. Sua boca era um sem número de aftas e abscessos. Seu cheiro era asqueroso.
- Quem é você? O que quer?! – rosnou mais uma vez Utopia.
A criatura deu um passo à frente. Ergueu o punhal e com um sorriso grotesco cortou uma fatia de sua própria perna. Sangue podre jorrou da nova ferida. Com as mãos em concha segurou parte do fluido e andou em direção à um rosto assustado marcado pela repugnância. Um passo, dois passos, três, quatro. Agachou-se, o sangue negro e fétido retido em suas mãos gangrenosas. Seus olhos se encontraram com os de Utopia, e então sorriu. Seus dentes de uma alvura ofuscante, sua gengiva de um vermelho vivo.
Utopia demorou para perceber o que acontecia, estava tão mesmerizada com o sorriso daquele ser, o sorriso mais lindo que já havia visto, que não percebeu que bebida daquele sangue venenoso e morto. Afundou-se tanto naquele sorriso que perdeu a noção do ser, do estar, do querer. Esqueceu quem era, quem foi, quem seria. Afundou-se tanto naquele sorriso que despertou nas trevas.
Dali há algum tempo aqueles que olhassem para aquele trecho da floresta viriam um vulto esguio arrastando algo que se assemelhava a alguém por entre as raízes, na direção dos pilares.