Nuvens negras, tão
familiares, circundavam os pilares e desabavam.
A corrida para dominar
os pilares fizera uma estrada de corpos por entre as árvores e arbustos e
deixaram sua assinatura em sangue na areia. As duas pequeninas irmãs jaziam
esmagadas aos pés do sustentáculo da esfera apagada.
Silêncio, escuro e
morte.
Nada se movia, nada
respirava.
À chegada dos três
Tempos houve um pequeno suspiro e um reboliço no ar. Depois apenas houve o
pasmo. Uma existência estéril se apresentava a eles e mexia com seus conceitos.
Nem mesmo o Futuro escapou às palavras que lhe fugiram.
Árvores mortas e
arbustos que se resumiam a raízes podres dominavam o antigo bosque verde,
corpos enroscados em suas raízes e empalados em seus galhos. Recostada aos
pilares estava uma figura esquálida e pútrida, de olhos abertas e sorriso
morto. Eis o resumo da epopeia da destruição.
Passado, Presente e
Futuro ali ficaram parados, quase sem respirar. O primeiro tremia de medo. Medo
do silêncio, medo desse futuro, medo do que será. O segundo tinha lágrimas nos
olhos e o vazio na mente. Seu mundo estava devassado. O terceiro tinha medo,
lágrimas nos olhos e alívio.
- Ei-vos aqui. – disse o
Oblívio repentinamente.
Ei-los ali. As quatro
ultimas entidades da existência de pé na terra de ninguém, sob uma esfera cinza
e morta.
- Acabe com isso! Acabe
com a nossa monstruosa existência, como nossas faltas e desejos, com nosso
egoísmo, com nós mesmos! – suplicou Futuro – Acabe com a dor! Acabe com...
- Já chega, velho! –
interpôs Oblívio – Você me trata como filho, como empregado, como submisso às
suas vontades. – e andando em direção aos pilares – Foram vocês que me
chamaram? Sim. Mas mesmo que não me tivessem chamado eu viria, era hora. – agachou-se
junto da figura morta recostada nos pilares – Isso aconteceria inevitavelmente,
o diferente seria o como e quando. Esses pilares, esse bosque, vocês, eu...
tudo é descartável. Sou um agente, o meio pelo qual se operam as mudanças, pelo
qual se esquece e se recria. – ao seu toque, o corpo inerte deixou de existir –
Vocês se julgam donos da esfera, não é? Então por que ficam sempre aqui? Por que
desejam o controle dos pilares? Por que vivem em função deles? Vocês não sabem.
Não sabem nem de onde vieram! Ignorantes que se pensam deuses – e olhando as
nuvens escuras e a esfera morta mais acima sussurrou – Está chegando a hora.
Passado jogou-se no
chão em desespero e lágrimas.
Presente continuou
inerte.
Futuro sorriu.
E no lugar das trevas esperadas eles assistiram a uma cena. Algo que se passava na esfera.