quarta-feira, 30 de maio de 2012

Um Lapso Momentâneo de Razão


A existência é efêmera.

O que nos é real e concreto hoje será memória amanhã e vácuo na posteridade. 

Nada dura para sempre em nosso mundo de concreto, aço e ferro.

Nada dura para sempre porque o “para sempre” é uma extensão infinita de tempo, e o tempo não existe. Só há “para sempre” enquanto algo existir, quer seja fisicamente ou imaterialmente.

“Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja eterno enquanto dure"

Palavras sábias.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Crônicas de uma Realidade: Ultimos Momentos de uma Velha Existência


Seus olhos fitavam o teto daquela caverna. Seria a última imagem que seus olhos captariam. Seu corpo velho e cansado entregara os pontos. Estava feliz.

Com ele morreriam as memórias, os conceitos, os gostos... com ele morreria o velho mundo, seus fundamentos e suas morais.

Se perguntava o que seria das crianças que tinham sobrevivido junto a ele, mas nada disso lhe importava mais. Já eram adolescentes, aprenderiam a se virar naquele mundo que, para ele, era hostil e desconhecido. Seriam forçados a tal. Enfim ele poderia morrer em paz.

Seus olhos fitavam o teto, mas nada mais enxergavam.

E naquela caverna escura, úmida e fétida jaziam mortos o Tempo, os Pilares, o bosque e tudo aquilo que fazia do mundo Mundo.


sábado, 12 de maio de 2012

Crônicas de uma Realidade: Caos


Nuvens negras, tão familiares, circundavam os pilares e desabavam.

A corrida para dominar os pilares fizera uma estrada de corpos por entre as árvores e arbustos e deixaram sua assinatura em sangue na areia. As duas pequeninas irmãs jaziam esmagadas aos pés do sustentáculo da esfera apagada.

Silêncio, escuro e morte.

Nada se movia, nada respirava.

À chegada dos três Tempos houve um pequeno suspiro e um reboliço no ar. Depois apenas houve o pasmo. Uma existência estéril se apresentava a eles e mexia com seus conceitos. Nem mesmo o Futuro escapou às palavras que lhe fugiram.

Árvores mortas e arbustos que se resumiam a raízes podres dominavam o antigo bosque verde, corpos enroscados em suas raízes e empalados em seus galhos. Recostada aos pilares estava uma figura esquálida e pútrida, de olhos abertas e sorriso morto. Eis o resumo da epopeia da destruição.

Passado, Presente e Futuro ali ficaram parados, quase sem respirar. O primeiro tremia de medo. Medo do silêncio, medo desse futuro, medo do que será. O segundo tinha lágrimas nos olhos e o vazio na mente. Seu mundo estava devassado. O terceiro tinha medo, lágrimas nos olhos e alívio.

- Ei-vos aqui. – disse o Oblívio repentinamente.

Ei-los ali. As quatro ultimas entidades da existência de pé na terra de ninguém, sob uma esfera cinza e morta.

- Acabe com isso! Acabe com a nossa monstruosa existência, como nossas faltas e desejos, com nosso egoísmo, com nós mesmos! – suplicou Futuro – Acabe com a dor! Acabe com...

- Já chega, velho! – interpôs Oblívio – Você me trata como filho, como empregado, como submisso às suas vontades. – e andando em direção aos pilares – Foram vocês que me chamaram? Sim. Mas mesmo que não me tivessem chamado eu viria, era hora. – agachou-se junto da figura morta recostada nos pilares – Isso aconteceria inevitavelmente, o diferente seria o como e quando. Esses pilares, esse bosque, vocês, eu... tudo é descartável. Sou um agente, o meio pelo qual se operam as mudanças, pelo qual se esquece e se recria. – ao seu toque, o corpo inerte deixou de existir – Vocês se julgam donos da esfera, não é? Então por que ficam sempre aqui? Por que desejam o controle dos pilares? Por que vivem em função deles? Vocês não sabem. Não sabem nem de onde vieram! Ignorantes que se pensam deuses – e olhando as nuvens escuras e a esfera morta mais acima sussurrou – Está chegando a hora.

Passado jogou-se no chão em desespero e lágrimas.

Presente continuou inerte.

Futuro sorriu.

E no lugar das trevas esperadas eles assistiram a uma cena. Algo que se passava na esfera.