terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

[Conto] Pagão (parte VII)

Pôr do sol.

Será uma noite fria.

Ele anda por entre carros quebrados e sob o asfalto rachado da avenida.
Solitário.

Olha para o relógio.
12:00 horas.

Uma sombra sai de trás de um carro. Cabeça baixa. Negrume de alma. Some.

Sente frio, precisa de fogo. Precisa de pessoas.

Noite escura, estrelada. Negrume da vida.

Quer suas roupas de volta. Se arrepende de tê-las jogado fora.
Agora é tarde.

Escuridão.
Não enxerga quase nada. Negrume de corpo.

Continua andando. Vez ou outra sente a presença escura de alguma sombra, mas não se importa. As ignora.

Tenta olhar a bússola. Nada.

Tenta olhar o caminho. Nada.

Não vai mais pedir ajuda, não será ouvido.

De cima vem apenas o brilho das estrelas. Indiferença.

Esbarra em um carro grande, meio torto, mas útil para passar a noite.

Entra.

Dorme.

Acorda.

Noite.

12:00 horas.

Pesadelo?
Não.

Silêncio.
Silêncio?
Não.

Ele ouve algum barulho.
Algo que vem do escuro.

Parece um zumbido.

Zumbido baixo e irritante.
Zumbido longínquo.
Zumbido novo.

Ele ainda não pode sentir o cheiro da aranha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como eu havia dito anteriormente, eu sinto uma identificação muito grande com o personagem.
Não sei se a intenção era essa [ou qual seria], mas essa sensação de solidão, espreita, se sentir perdido e isolado, um mundo alheio a você... Enfim, foram os sentimentos que me foram inspirados pelo que leio aqui.
Gosto também dessa escrita sucinta, sem floreios ou descrições exageradas. Uma coisa seca. Dá a sensação de angústia.