domingo, 28 de fevereiro de 2010

[Conto] Pagão (parte XIV)

Ruas.

Rostos.

Vazios.

Onde está aquilo que ele procurou?
Onde está a vida que perseguiu?

Tudo o que sempre quis... não existe.
Nunca existiu.

Caiu na teia.
Caiu para a morte.
Não há como sair.

Corre.

Evitam-no.

Faces.

Esgares.

Não quer mais isso. Não consegue mais aguentar.

Pior que a solidão é estar sozinho numa multidão.

Uma multidão cega. Abstrata.

Domada.

Unida por um pensamento comum.
Unida por ser artificial.

Terremoto.
Paredes caem.
Prédios caem.
Casas caem.
Pessoas morrem.

Ele corre.

Se afasta.

Se despe.

Pôr do sol.

Olha. Vazio.

Relógio.

11:50.

Bússola.

Enterra-a.

Senta-se. Olha a bola de fogo cinzenta sumindo.

11:55.
Chora. Foi tudo em vão.

11:57.
Uma sombra. Na sua frente.
Olhos mortiços. Frios.
Sorriso selvagem.
- São os homens.
Ele olha para a escuridão.

11:58.
Estende-lhe a mão.
- Sonhos? Não os tenha. Deseje, apenas.

11:59.
Sente a noite tomar seu corpo.
- Sonhos se quebram, acabam, passam. Desejos permanecem, a luta persiste.

12:00.
Somem.

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