domingo, 7 de fevereiro de 2010

[Conto] Pagão (parte VI)

Continua andando.
Já não sabe quanto tempo se passou desde que saiu do apartamento vazio, só sabe que
seguiu sempre em frente.

O prédio lhe parece mais escuro a cada passo.

Sente que está ficando louco. Precisa de luz, precisa de comida.
Precisa de alguem.

Seus pés o arrastam por mais outro corredor de portas fechadas.

Sua mente sempre tentando se agarrar a qualquer indício de presença humana. Sem sucesso, ele está sozinho.

Não aguenta o silêncio, chora.

Olhos cheios de lágrimas, ele olha para a bússola.
Quebrada, apontando para o vazio.

Segue se arrastando, grito trancado na garganta, lágrimas cegando-lhe os olhos.

Levanta.

Para.

Corre.

Grita.

Escorrega.

Cai.

Olha.

Luz. Outra porta aberta.
Uma sombra está de pé olhando para ele. Sua superfície negra não reflete a luz, a absorve. Seus olhos mortiços não olham, vêem.

Ela entra no apartamento. Some.

Levanta-se e vai até a porta, dessa vez sem esperança.
Outra sala vazia.
Apenas um relógio de pulso no chão.

Relógio quebrado. Os ponteiros não se mechem, marca sempre 12:00.
Ele olha pela janela. Vê tudo (ou seria o nada?) que um dia lhe fora familiar.

Abaixa os olhos, chora.

Um barulho no corredor, uma porta se abre.
Anda, sem interesse, até o corredor. A porta do apartamento se fecha. A porta no fim do corredor se abre.

Luz.

Ele ainda não pode ver a teia.

Um comentário:

Kamui Black disse...

Esse conto fica cada vez mais melancólico. Tá até me dando uma agonia de ler ele. Ainda mais finzinho de domingo que parece que as pessoas ficam mais deprê (por que será, não?).

De qualquer maneira, melhorou o caso de repetição. Foi um grande avanço.

KamuiBlack