domingo, 15 de abril de 2012

Crônicas de uma Realidade: Oblívio #1


Os pilares jaziam em parte estraçalhados no chão em parte em ruínas no centro da clareira. A era do não-Tempo havia chegado há muito e, mesmo quando o velho ainda estava presente sua força não era mais sentida.

A esfera, antes azulada, límpida, agora era uma massa de rocha, poeira e concreto. Cinza e amarela, um deserto da não existência. O resultado de uma insistência.

Realidade, Ficção, Utopia, Distopia, Verdade, Mentira, Vida e Morte choravam a queda do pilares. Esperavam pelo Fim, que não mais viria junto ao Início, mas sozinho em sua derradeira aparição naquele plano sem motivos para continuar existindo. E sua espera foi-lhes recompensada. Fim ali fez-se presente, integro em sua ausência de forma, tranquilo com a destruição inevitável.

Estendeu sua energia sobre os outros e preparou-se para finalizar toda existência, mas algo o conteve. Uma força nova naquele mundo de velhos, uma nova criação, uma existência mais forte e mais presente que o próprio Tempo, uma criatura com ares de criador, um destruidor movido por desígnios superiores.

Filho de uma brisa, Oblívio ali estava. Os rostos que a ele olhavam mostravam-se vazios de medo, desejosos do fim. Eram deuses sem poder.

- Reis e rainhas de uma esfera morta, vocês nada são. Vocês para o nada irão; o fim esperado por vocês pode ser nobre, porém inútil. Queixam-se do egoísmo do Tempo, mas agem da mesma maneira. Ignoram, por acaso, a existência dos outros planos? Ignoram o passado, em todas as suas variáveis? Ignoram as memórias, os pilares?! – Aproximou-se do Fim e tocou-o – Você, que através da destruição renova o que morreu, compreende qual a minha tarefa. – Virou-se para os outros – Vocês, que vivem egoístas existências duplas, não entenderão e provavelmente me amaldiçoarão. – Virou-se para as ruínas dos pilares – Mas o que deve ser feito será feito.

Os pilares inflamaram-se com uma luz ígnea e desfizeram-se em fuligem como se fossem feitos de carvão, deixando uma enorme cratera onde por eras estiveram os sustentáculos da esfera.

E num piscar de olhos a floresta, a clareira, a esfera e tudo o mais foi sugado para o centro daquele buraco.

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