- O... o que você fez?!
– Indagou Passado em seu desespero juvenil. Ondas de uma energia estranha
emanavam dos três ali presentes, percorrendo tudo sem esbarrar em nada.
O velho Futuro ainda
segurava sua cabeça com aquelas mãos podres e fortes. Ao ouvir a indagação de
seu eu jovem riu um riso fétido de escárnio em decomposição.
- Fiz nosso filho. –
disse entre uma risada e outra. – Fiz o que deveria ter feito há muito. – sua boca
ria, seus olhos não.
Presente, parado e
agora também atordoado, observava e interagia com aquela cena. Seu corpo
pulsava na mesma frequência dos outros dois. Tinha medo do velho e desprezava o
jovem, este sendo suas memórias, aquele sendo o desconhecido. Um calafrio
assaltou-lhe quando percebeu que a intensidade e a frequência das ondas
aumentava.
- F-filho?! Nosso?
Como? Me larga, velho! Some daqui! – O jovem patético tentava se desvencilhar
das fortes mãos de morte, em vão.
- Nosso, meu, seu,
dele... na verdade pouco ou nada importa. Fiz o filho do Tempo. – Disse o
velho. – Agora vai, pode ir. - Largou a cabeça de Passado.
O jovem saiu correndo
em direção aos pilares, única casa que conheceu, e se aninhou entre dois deles.
De onde estava pôde ver o Futuro se dirigir ao outro Tempo e, após lhe tirar da
apatia, apontar-lhe algo. Apontar-lhe o chão. Tremia com medo dos seus dois
futuros e com o sua mudança brusca de presente. De repente notou o silêncio.
Não haviam mais vozes em sua cabeça. Um alívio angustiado o tomou, mas foi cortado
pela percepção de que havia mais alguém ali com eles.
Bem onde o velho havia
apontado alguém estava de pé.
Oblívio.
Futuro andou em direção
a ele e lhe beijou as mãos, os olhos em prantos. Murmurou:
- Acabe com tudo, por
favor. É chegada a hora.
Oblívio o pôs de pé e
enxugou suas lágrimas.
- Paciência, velho. Só mais um
pouco.
O velho se afastou,
meneando a cabeça afirmativamente. Em poucos segundos havia desaparecido mais
uma vez e levado consigo os outros Tempos.
- Só mais um pouco.
Virou-se para os
pilares e cumpriu seu papel.
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