quarta-feira, 11 de abril de 2012

Crônicas de uma Realidade: Dois Velhos Conhecidos

O sol pintava os pilares com tons alaranjados do crepúsculo. Uma brisa fresca e agradável passeava pelo bosque.

O Tempo observava com uma paciência infinita o sol se movimentando no firmamento. Haviam alguns meses que não conseguia dormir, que não conseguia ter um minuto sequer de descanso. Desde que aquelas vozes desconhecidas começaram a habitar sua cabeça sua vida havia mudado.

No início havia somente o silêncio e a contemplação, a certeza da existência plena e, de alguma forma, supunha, soberana. Não conseguia se lembrar de nada antes disso, mas sabia que existira desde sempre e existiria para sempre.

Até que, de maneira inesperada e violenta, uma torrente de vozes, pequenas formigas, invadiu seus pensamentos, suas ideias, sua vida, levando-o quase à loucura. Milhares, não, milhões de pequenas vozes indistintas que pareciam lhe perguntar: “quem é você? De onde vem? Para onde nos leva?”.

Ainda não conseguia descansar, não conseguia dormir. O peso da dúvida das pequenas vozes o mantinha preso ao chão, inerte na sua posição de contemplação infinita.

- Ora, pois que vemos um pequeno projeto de deus! Já tão cheio de pretensões, de conjecturas! Tão igualmente deslocado, desconhecido! – disse uma voz de velho atrás dele.

Com o susto, o pequeno Tempo, o Passado, deu um salto amedrontado. Como alguém ousa falar assim com ele? Haveria de exigir o devido respeito daquele desconhecido!

Mas não era um, eram dois. Suas sombras se alongavam, se encontravam e se estendiam até os pés do Passado. Seu olhar de terror era claro, se reconhecia naquelas duas figuras ali presentes. O Presente sentiu de repente uma estranha coceira dentro do crânio acompanhada de uma fala: “Quem são vocês? O que querem? Como chegaram aqui? Me deixem sozinho!”

- Quem são vocês? O que querem? Como chegaram aqui? – indagou o pequeno Passado. Deu dois passos acuados para trás - Me deixem sozinho!

Presente e Futuro, ao ver aquela cena patética, gargalharam. O primeiro como um tio fanfarrão, o segundo como um moribundo piadista. Não podiam deixar de rir ante aquela caricatura desengonçada, necessitada de autoafirmação.

- Quem são voc-

- Shh rapaz! – disse o velho.

- Olhe para nós e responda: o que somos? – disse o adulto.

Ambos já sabiam que, a essa altura, ele já os havia identificado, mas sabiam também, ou melhor, lembravam, que ele negaria seu conhecimento, que tentaria, de alguma forma expulsá-los de lá, de seu presente, do passado deles.

- Não os conheço, não os reconheço. – virou-se – Vão embora!

Futuro andou em direção àquela figura jovem e insegura, atormentada por milhões de vozes em sua cabeça. Passado, de costas para suas faces mais velhas, só percebeu a aproximação do Futuro quando este já o agarrava pela cabeça com suas mãos decadentes, mas fortes.

- Olhe! – e, de maneira inesperada, o novo cedeu ao velho e então aconteceu.

O encontro dos três Tempos, o chamado do oblívio.

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