quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nas palavras do Profeta:

"(...) Quando me cansei de acompanhar as eras dissolutas e me fartei de observar as procissões de povos entorpecidos, caminhei sozinho até o Vale da Sombra da Vida, onde o passado, cheio de culpa, tenta se esconder, e a alma do futuro se dobra e repousa por um tempo excessivo. Lá, à beira do Rio de Sangue e Lágrimas, que se arrasta como uma víbora venenosa e se contorce como os sonhos de um criminoso, ouvi o sussurro amedrontado dos fantasmas dos escravos e fiquei olhando para o nada.

Quando deu meia-noite e os espíritos emergiram dos esconderijos, vi um espectro cadavérico e moribundo caído de joelhos, olhando para a Lua. Aproximei-me dele e perguntei: "Qual o seu nome?".

"Meu nome é Liberdade", respondeu aquela sombra fantasmagórica de um cadáver.
Indaguei: "Onde estão seus filhos?".

E a Liberdade, chorosae fraca, soluçou: "Um morreu crucificado, o outro morreu louco, e o terceiro ainda não nasceu".

Ela se foi, mancando, sem parar de falar, mas a névoa em meus olhos e o choro em meu coração me impediram de ver ou de ouvir."

- Gibran Khalil Gibran, Temporais (também conhecido por Segredos do Coração), trecho do conto Escravidão.

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