segunda-feira, 21 de março de 2011

Redenção (Reificação) *

"Peroai-me, mestre, pois fui infiel a ti!"
Assim pensava aquele louco prestes a se curar.

Ia lentamente se despindo da insanidade que, infelizmente, teve medo de vestir por completo.

Não era aquela vida que tinham almejado para ele. Não podia decepcionar os outros, o Mundo dependia dele e de suas ações. Deixar-se vestir pela loucura (que há tempos pedia para sair, mas que ele insistentemente mantia presa dentro da cela) seria se render a aquela vontade de abandonar os planos construídos encima dele.

Não. Não usaria aqueles óculos, não escutaria com seus ouvidos, não enxergaria com seus olhos nem sorriria com sua boca.

Não. Não conseguiu rasgar seus olhos sagrados.


Assim pensava aquele poeta em potencial, pronto para encerrar mais uma vez o seu destino nas grades da melancolia e mesmice:
"Perdoai-me, mestre, pois cogitei minha morte racional em detrimento de uma vida etérea!"

Traduzindo:
"Oh Grande Mundo, engula-me, faça de mim o seu servo, o seu objeto! Não sou uma mente livre, uma mente louca, sou são, perfeitamente são e estou aqui apenas para que possa me usar quando quiser. Me estupre, me use, me desgaste! Sou seu, não meu."



* Esse texto será melhor compreendido se lerem "É uma questão de qual óculos se usa..."

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