quarta-feira, 16 de março de 2011

É uma questão de qual óculos se usa...

... o de grau ou aquele outro, que sempre deixamos guardado na gaveta do esquecimento... dentro de uma caixa de medo chumboso, mas sem a existência do qual não podemos viver.

É uma questão de qual olho se escolhe.
Não adianta ter aquela vista perfeita, aquela pureza de linhas e relevos, se não houver aquele olho profano, aquele não se esolhe, mas que se é dado.

É uma questão de qual máscara se veste.
De nada adianta a mais colorida, a mais sorridente, a com aqueles grandes olhos azuis se, na verdade, a boca e os olhos ficam ao abrigo do sol, resguardados. A boa máscara é aquela feita de carne, renegada pelos homens éticos e de boa moral.

É uma questão de qual ouvido se tem.
"Oh, mas que grandes orelhas você tem!". Não são para ouvir melhor, são instrumentos máximos da surdez. Quem ouve é perigoso, quem e o que é perigoso deve ser evitado para o bem de todos.

Vê aquele lindo oceano bem em frente de nós?
Vê?
Não, não quero que veja, apenas. Quero que enxergue.
Não só que enxergue, mas que ouça seu som molhado e intenso.
Não só que ouça, mas que levante sua máscara de pele para o sol e olhe com seus olhos e sorria com sua boca.
Não só que se exponha, mas que peguem aqueles velhos óculos guardados há tanto tempo por vocês. Isso, isso... exponham também as suas lentes vermelhas ao sol.
Agora juntos arranquemos estes olhos sagrados e recebamos das mãos dos Deuses os olhos profanos, tão dígnos de nós.
Já notam uma diferença? Ah... mas vocês ainda não viram nada!
Lentamente elevemos esses velhos óculos aos nossos novos olhos.
Não temam! É sim algo assustador da primeira vez, mas o que não é? Só vocês podem terminar o que começaram.
E a medida que a luz passar pelas lentes e atingir seus olhos pensem: "estou livre!" mas saibam: ninguém é, de fato, livre. Todos vamos carregar para sempre esse bom fardo do Eu.

Como enxergam o oceano agora? Vermelho?
Não.

Enxergariam vermelho se tivessem se despido dos seus velhos olhos, ou se usassem os óculos de grau.

Vocês vêem mais.
Vocês agora vêem poesia.

Que olhos são esses?
São os olhos dos magos, dos bardos, dos profetas, dos amantes...

Que lentes são essas?
São as lentes da loucura, da paixão, da beleza, do oculto...

No final todos nós temos um pouco de Cristo e Satanás.

Um comentário:

Pauliane MS disse...

Como eu já disse é inevitável não lembrar do Mundo de Sofia com tal título. E é fascinate a forma que mostrar-te que nós ouvimos o que "queremos", vemos apenas o que "queremos" e nunca o que EU quero. Mas sempre no plural onde o sistema é que verdadeirmente rege tudo isso.