sábado, 9 de outubro de 2010

Esclarecimentos

Acho que devo algumas explicações aos visitantes e eventuais leitores (raras almas, tenho consciência) sobre alguns termos e temas que faço uso. Sei que, para quem entende meus textos, não há necessidade alguma disso, mas também sei que são pouquíssimos os que se enquadram nesse grupo.
Como podem perceber eu tenho uma certa fixação no “concreto cinza”, em como evitá-lo, em como combatê-lo, em identificá-lo no cotidiano das grandes – e cada vez mais nas pequenas – cidades. Não gosto do convencional, não gosto do pré-formatado. Para mim ser como “todo mundo”, ser “normal” é repulsivo, me dá ânsia, angústia, entendem? E, por causa dessa angústia, não consigo ficar calado (na verdade não consigo entender) quando vejo os caminhos cada vez mais asfaltados, cada vez mais urbanos, cada vez mais sóbrios que a humanidade toma.
Às vezes preferia, sinceramente, ser mais uma máquina de produção. Não sofreria com a decadência ácida. Muito pelo contrário, ficaria feliz, acharia tudo lindo, brilhante (mesmo sendo cronicamente cego), teria os mesmos sonhos e aspirações que todos os outros, apenas trocando alguns detalhes genéricos desimportantes. (Na verdade não. Não desejaria ser um macaco mecânico. Acabaria caindo no fogo infernal dos conhecimentos banais excessivos... Gastaria uma encarnação apenas para manter a roda de concreto girando.)
Enfim, deixando as prolixidades de lado, meus textos sempre serão metáfora do vazio que nos permeia, sempre serei poeta da desolação em massa (e da massa), da insignificância de uma vida para o universo (coisa que vem sendo mascarada, maquiada e escondida desde muito, muito tempo).
Não sou utópico. Sei que é preciso que existam dominados e sei que os dominadores são imprescindíveis em qualquer sociedade animal. A questão é que, com o passar dos séculos, tais dominadores foram escavando a terra e hoje batem à porta do núcleo do planeta, sem se tocar (ou até com uma vaga noção) de que se lá entrarem tudo desmoronará, tudo acabará.
Que diria Nietzsche se vivesse nos dias de hoje? Ele que, à sua maneira, também lutava contra o avanço do concreto cinza e que apontava seus principais erros estruturais (que já foram há muito rebocados e hoje apresentam máscara nova)?
Seja como for, ele não se resignaria. Nós também não o devemos.
O homem cinza é pior parasita que os homens de carne. Os homens de carne destroem por prazer, por medo, por tesão. Os homens cinza destroem por astúcia, por indiferença, pelo seu próprio ego.
Nós, homens de carne, somos animais. Eles, homens cinza, são criaturas anti-naturais.
É então que convoco-os: minemos, cada um ao seu jeito, a paciência, a astúcia desses seres. Ajamos como vermes em carne podre, comendo pouco a pouco a carne morta. Ajamos como parasitas de parasitas.
É isso que defendo, é disso que eu falo, é por isso que eu vivo.

Nenhum comentário: