quarta-feira, 13 de julho de 2011

Crônicas de um Lugar Comum #5

16 anos, cabelo comprido, roupas pretas, um cigarro entre os lábios, uma garrafa de vinho vagabundo na mão esquerda, a mão direita dentro do bolso, 30g de maconha na mochila.
- É isso aí porra! Rock’n Roll caralho! – gritou erguendo a garrafa plástica do vinho.
Estava no show de uma banda underground de sua cidade. Ao seu redor uma multidão de criaturas iguais a ele se empurrando, se batendo, trocando beijos, unindo sexos, dividindo drogas. “Esse é o paraíso...” pensa.
- Rock’n Roll! – gritou mais uma vez.
Ele gosta dessa vida despreocupada e ainda assim aproveitada ao maximo. Não é um retardado que nem os playboyzinhos de sua escola, não era um viadinho que nem os emos e os happy rockers... raças desgraçadas. Sempre quis enchê-los de porrada até não sobrar nada além de uma papa vermelha.
A raiva desses seres inferiores aflorou em seus punhos e se confundiu com o álcool em seu sangue. Entrou para uma rodinha de bate-cabeça e se perdeu na noite.

***

Sangrando, suado, bêbado e drogado ele chegou às sete horas da manhã em casa e, para sua infelicidade, deu de cara com sua mãe.
- Sua praga! Onde você estava? Olhe como você está! Eu tava preocupada, porra! Você sabe que eu odeio quando você faz iss...
- Ah, cala boca sua puta velha! Isso é Rock’n Roll!
Ele entrou em casa. A mãe ficou boquiaberta encarando a rua já movimentada. Onde havia errado? Onde?
Enquanto ela conjecturava sobre como aquele bebê risonho tinha se transformado no vagabundo maconheiro que era hoje, ele tomava um banho e limpava o sangue de seus punhos e rosto.
Às sete e meia da manhã ele colocou a cabeça no travesseiro e ficou ainda por alguns momentos encarando o teto branco de seu quarto. Ele era tão superior aos viadinhos e playboyzinhos... porra de escola! Que se foda! Fodam-se as regras, isso é rock’n roll!
Embalado por esses pensamentos auto-afirmativos ele dormiu.

***

Uma coisa que é bastante irônica: enquanto ele se acha superior aos que freqüentam a escola e tem uma vida normal, estes mesmos nutrem pensamentos idênticos em relação a ele.
Incrível como os opostos são tão iguais...

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