domingo, 10 de julho de 2011

Crônicas de um Lugar Comum #4

- Glória nosso Senhor Jesus Cristo, aleluia!
- Aleluia!
- Sai desse corpo demônio! Volta pro inferno que é teu lugar! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo, aleluia!
- Aleluia! Sai demônio!
- Em nome do Deus vivo eu te expulso desse corpo, coisa ruim! Sai desse corpo!
- Sai desse corpo, aleluia!
Por dez longos minutos a cena foi a mesma: uma jovem por volta dos vinte e cinco anos debatia-se violentamente contra o piso do altar enquanto o pastor gritava comandos de expulsão para o demônio que a havia possuído enquanto os fieis repetiam com o mesmo fervor as ultimas palavras de cada frase do pastor. No fim, com um ultimo espasmo violento, a jovem permaneceu desacordada. Satisfeito e banhado de suor o pastor levantou as mãos para o teto do templo e exaltou os poderes do Senhor.

***

No ônibus:
- Menina, o que foi aquilo?! O Coisa Ruim não queria deixar aquela moça! É o fim dos tempos mesmo! Que Nosso Senhor tenha pena das almas dos que não crêem Nele...
- É Angélica... as coisas tão difíceis mesmo... por falar nisso, você se lembra da Cláudia?

***

No bar:
- ... você precisava só ver a cara dos crentes, Dé, foi hilário. No fim eu saí de lá toda ralada, mas com mil reais a mais na conta. Sabe que valeu a pena? O difícil é não dar risada...
- Drica, Drica... olhe lá pra não fazer disso um hábito. Você sabe como o meio artístico vê quem se rende a isso.
- É, eu to ligada... mas, porra, eu tenho que pagar minhas contas, né?
- Você que sabe. Como eu disse: só não faça disso um hábito.

***

Na cobertura:
- Ô Carlão rapaz, aquela menina interpreta bem paca, né?
- Porra meu velho, nem me fale, achei que você não fosse dar conta do recado! Dez minutos é muito tempo!
- Qué isso rapaz, tá esquecendo que eu sou expert nisso?
Risos.
- Verdade, verdade. Vai um vinhozinho?
- Não, não. Me vê um scotch aí.
- Beleza!

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