terça-feira, 26 de abril de 2011

(In) Satisfação

Ele olhava, sisudo, a multidão de repórteres espremida sob as janelas daquele casarão suntuoso. Chovesse ou fizesse sol, de dia ou de noite, lá estavam eles, incansáveis, decididos.
Deixou-se cair em sua poltrona bordada a fios de ouro e deu um suspiro. Definitivamente isso o irritava. Era frustrante: seu filho, um bostinha de vinte e poucos anos, era mais respeitado e venerado que ele, homem feito de longas datas.
Ia esticar a mão para ligar a TV, mas desistiu antes mesmo de concluir o pensamento. Tudo sobre o que estavam falando era relacionado a seu filho e ao casamento. Os doces, os pratos, a festa, a cerimônia, a torta, a cor das flores, o padre, a careca do padre, a cor da cueca de seu filho, a cor da calcinha da noiva...
Ah, a noiva...
Recostou sua cabeça na poltrona e encarou o teto pensando na sua futura nora. Que lindos olhos, que pele branca... ah, que juventude... mas, mais uma vez, seu filho estava em seu caminho.
Quanto mais pensava na noiva de seu herdeiro mais sua calça ficava familiarmente apertada. Precisava aliviar a tensão.
Levantou-se, trancou a porta e fechou as cortinas. Em alguns momentos tudo voltaria ao normal. O controle seria seu novamente.
Mas quem tentava iludir? O controle nunca fora seu.

***

Ela dormia tranqüila em seu quarto até que um barulho a acordou.
Estava sozinha no quarto, tinha certeza, mas paradoxalmente também sabia que havia alguém lá com ela.
Abriu os olhos, sonolenta, e olhou em volta. Nada.
Levantou-se, foi até a imensa janela do quarto do hotel. Todos continuavam lá, não a deixariam em paz. Voltou, foi até o banheiro e olhou-se no espelho.
- Princesa...
Mas sabia que não haviam contos de fadas.
Decidiu voltar para continuar seu sono. A impressão da presença de mais alguém dentro do quarto já havia sido quase totalmente esquecida.
Quando estava quase dormindo o barulho se repetiu.
O coração começou a palpitar mais forte, a adrenalina lhe invadia o sangue e suor começou a se formar na sua planta dos pés.
Tinha mais alguém ali e estava de junto dela!
Outra vez o barulho se repetiu, um arfado meio abafado meio louco.
Sentia algo se aproximando de seu pescoço e imediatamente ficou paralisada.
A respiração do intruso era intensa e pesada, exprimia angústia e desejo insanos.
Ela sentiu o mundo rodar e então mergulhou num profundo breu.

***

Terminado seu serviço, o velho príncipe pegou um lenço e limpou as mãos, depois atiçou-o no incinerador.
Estava tranqüilo outra vez, mas não em paz. O semblante de sua nora o perseguia (quase tanto quanto ele a desejava), mas nada podia fazer, por enquanto, a respeito. Só lhe restava dormir e esperar que o dia desse cabo de suas angústias e desejos.
Ou da desejada.

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