quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Qual Mão?

Em terra de destros e canhotos perderam se todos, esse é um fato.
Por que os canhotos tem de ser hegemônicos (em número) encima dos destros? Por que ser destro é ruim?
Não, me recuso a ser canhoto. Me recuso a entrar na do palhaço maquiado. Me recuso a socar minha mente nessa massa de trigo podre e grama suja.
Por outro lado também me recuso a ser destro, a atender aos padrões dessa sobriedade cinza e cancerosa. Me recuso a criar limo nas juntas e beiradas de meu ser.
É aí que paro e pergunto: se não sou canhoto porque não gosto de massa ruim e se não sou destro porque não gosto do cinza moribundo... que porra eu sou?

- Nada, oras. Você é o olho, você é a boca, você é o cérebro. Você é.


Sem mais.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Concreto Cinza

Ele estava estarrecido. Como tudo mudara em tão pouco tempo? Não sabia.
Nem tinha como saber.
Olhava, espantado, para a paisagem. Cinza. Concreto cinza.
Meu Deus... - era para ser uma exclamação, que sua garganta atrofiada não conseguiu reproduzir.
“Deus? O que é isso?” Parecia perguntar-lhe aquela vista.
Uma raiva nascia em seu peito magro, tísico. Raiva que inflamava no meio daquela frieza. Um ponto vermelho (e insignificante) em meio ao aço e concreto.
Buscou um olhar, mas tudo parecia estático.
Pôs-se a andar.
Caçava um rosto, um ato, um verbo. Nada. Apenas blocos enormes de concreto cinza e aço. Tudo vazio.
Sentou-se na terra descolorida e recostou-se num tronco prateado. Chorou.
Passou o dia. Passou a noite. Nada. Cinza.
Faminto. Mas não de comida. De companhia, de gente.
Levantou-se.
Andou durante dias cinzas por entre a paisagem cinza.
Nada.
Desesperou-se.
Louco.
Gritou.
Dormiu.
Há, então, um barulho. Passos!
Não.
Uma marcha. Gente.
E viu aquela legião.
Centenas, milhares, milhões de rostos em marcha.
Correu para eles. Esperança. Infeliz.
O sorriso estava estampado em seu rosto.
E a multidão em marcha pela terra cinza.
De repente eles pararam. Ele também.
Milhões de olhos cheiravam sua carne. Cheiro humano.
Entre lágrimas tentou falar-lhes:
Quem são vocês?
Eu sou o Mundo! - Respondeu o coro uníssono.
Finalmente ele entendeu.
Abaixou a cabeça e saiu da frente.
O Mundo continuou sua marcha, impassível.
Ele buscou a sombra de um bloco cinza e sentou-se.
Olhou.
Minguou.
Sofreu.
Morreu.

sábado, 4 de setembro de 2010

Despedida

Tragando da sua presença
Me fiz seu boneco mudo
E o abraço de seu veludo
Em mentiras mergulhou minha crença

A mente forte de um coração
Fraco e carente de afeição
Não conseguiu resistir e quebrou
Acreditando, no fim se enganou

Nenhum momento foi real
Ilusões de sonhos construídos
Nem mais um verbo no funeral
Almas e corações iludidos

Acabada a dor
Mudos ficaram os atores
O Império ainda erguido, embora
Roída a carne do Imperador

A fogueira queimou, queimou
E aqueles riam, bebiam
Os fogos calaram, cessaram
O peso da morte da farsa, disfarça

Sim, o amor machuca
Engana e mata
É um vício louco
Uma obsessão maluca

Nos lançamos sem pensar
Irresponsavelmente agindo
Não vimos como iria acabar
Acontece que agora estamos caindo

Agora é tarde
Digo-lhe apenas isso:
Enquanto assim você for
Um mundo como esse
Sempre estará errado