sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Concreto Cinza

Ele estava estarrecido. Como tudo mudara em tão pouco tempo? Não sabia.
Nem tinha como saber.
Olhava, espantado, para a paisagem. Cinza. Concreto cinza.
Meu Deus... - era para ser uma exclamação, que sua garganta atrofiada não conseguiu reproduzir.
“Deus? O que é isso?” Parecia perguntar-lhe aquela vista.
Uma raiva nascia em seu peito magro, tísico. Raiva que inflamava no meio daquela frieza. Um ponto vermelho (e insignificante) em meio ao aço e concreto.
Buscou um olhar, mas tudo parecia estático.
Pôs-se a andar.
Caçava um rosto, um ato, um verbo. Nada. Apenas blocos enormes de concreto cinza e aço. Tudo vazio.
Sentou-se na terra descolorida e recostou-se num tronco prateado. Chorou.
Passou o dia. Passou a noite. Nada. Cinza.
Faminto. Mas não de comida. De companhia, de gente.
Levantou-se.
Andou durante dias cinzas por entre a paisagem cinza.
Nada.
Desesperou-se.
Louco.
Gritou.
Dormiu.
Há, então, um barulho. Passos!
Não.
Uma marcha. Gente.
E viu aquela legião.
Centenas, milhares, milhões de rostos em marcha.
Correu para eles. Esperança. Infeliz.
O sorriso estava estampado em seu rosto.
E a multidão em marcha pela terra cinza.
De repente eles pararam. Ele também.
Milhões de olhos cheiravam sua carne. Cheiro humano.
Entre lágrimas tentou falar-lhes:
Quem são vocês?
Eu sou o Mundo! - Respondeu o coro uníssono.
Finalmente ele entendeu.
Abaixou a cabeça e saiu da frente.
O Mundo continuou sua marcha, impassível.
Ele buscou a sombra de um bloco cinza e sentou-se.
Olhou.
Minguou.
Sofreu.
Morreu.

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