quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Ave

“Não é justo!
Só pode ter sido um acidente!
Ela era uma menina tão alegre e prestativa! Amigos não lhe faltavam.
Por que, meu Deus, que isso foi acontecer com ela?
Ela nunca se suicidaria, com toda certeza foi um acidente, só pode ter sido!”

Assim pensam os pais, que julgavam conhecer sua filha, sua princesa.
Assim pensam os pais, que não aceitam o fato puro e simples.
Assim pensam os pais, transtornados com as acusações de suicídio de sua filha.
Eles não a conheciam. Tinham uma vaga desconfiança disso, mas o temor de que isso fosse verdade não os deixava chegar junto e olhar a alma de sua filha.
Eles sabem que ela se matou, mas resistem à verdade. Resistem à idéia de que tupo poderia ter sido evitado.
Eles se fazem de fortes, tentam ignorar as verdades ditas. Para eles a verdade é uma só. Para eles a venda começa a assumir o lugar das retinas.

* * *

“Não aguento mais!
Sempre estou aqui para todo mundo, mas não há ninguem que esteja aqui por mim!
Estou cansada.
Cansada de meus pais sempre acharem que está tudo bem.
Cansada de ter sempre que estar sorrindo, de ter que parecer absolutamente feliz, de ter que ser absolutamente feliz.
Quero ser livre.
Quero que essa máscara caia e quebre.
Quero voar como um pássaro.”

Ela pensava isso enquanto se preparava para a viagem.
Sentia-se um lixo. Sentia-se repugnante.
De suas amizades nenhuma era verdadeira. Não que eles fossem falsos, não, nada do tipo. Era ela o problema. Ela, que sempre tentava agradar todo mundo e que não conseguia gostar de ninguem.
Sentia-se sozinha e louca.
Queria voar.
Foi até a varanda do seu apartamento e vislumbrou a vista de sua cela aberta pela ultima vez.
Levantou vôo.

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