domingo, 4 de setembro de 2011

Crônicas de um Lugar Comum #8

Deus ex-machina*”.

Acordou. Teria ouvido algo?
O quarto estava silencioso, exceto pelo quase inaudível barulho do ar condicionado. Abriu os olhos e fitou o teto. Quando suas pálpebras estavam quase se fechando e o sono tomava seu corpo ele abriu os olhos no espanto de uma súbita lembrança.

“A reunião! Tenho a reunião às 8:00! Não posso me atrasar, tenho que saber se o Silva colocou todo o material no pen drive! O celular! Cadê a porra do celular!?”
Levantou-se, bateu o pé no cesto de lixo e xingou. Acendeu a luz e começou a revirar os bolsos de sua calça e do seu paletó. Nada. O desespero começou a tomar conta dele.
“Merda! Se eu não achar essa porra de celu...”. Sua mão encostou em algo quadrado com textura lisa. “Ahh, ótimo!”. Puxou o celular de dentro do bolso e, sem nem olhar para a tela, discou o número de seu colega. Após alguns segundos com o aparelho encostado na orelha estranhou não ouvir o clássico “tuuuu” de espera. Olhou então para o visor e, ao ver que não havia sinal de energia, arremessou o objeto contra a parede.

“Porra de celular! Que merda...! O computador!”
Correu para a sala, acendeu o abajur e moveu o mouse nervosamente até a tela se iluminar. Abriu a internet, entrou em seu email, digitou o que queria. “Mas... será que ele vai ler a mensagem antes da reunião? E se não ler? Preciso avisá-lo de maneira mais certa, preciso falar com ele! Mas... é melhor eu também mandar este e-mail.” Subiu o mouse para clicar no botão “enviar” mas, antes que pudesse fazê-lo, a energia acabou.

“Não acredito! Não, não pode ser!” Deu um murro no monitor, derrubando-o. Levantou-se bruscamente e correu ao telefone. Sem linha.
“Não, não, não, não! Isso não tá acontecendo! Não!” Pegou as chaves do carro e correu porta afora apenas para cair no negro abismo da não existência.

Acordou.
Seu coração palpitava, suas mãos tremiam. Havia dormido mais uma vez no escritório, o teclado estava empapado com uma mistura de saliva e suor.

“Mais uma vez... isso tem que parar...” Olhou em seu relógio de pulso e viu que eram duas horas da manhã. Precisava ter uma noite de gente.
Levantou, mas seu corpo despencou novamente na cadeira ao ver o que estava escrito na tela de seu monitor.

Deus ex-machina”.








*Termo que significa literalmente "Deus saído da máquina". É um instrumento dramático que era amplamente usado nas tragédias gregas, onde, não havendo resolução para os problemas expostos, uma divindade ou ser mitológico se apresentava e mudava místicamente os rumos da história.
No entanto, usei a expressão em seu significado literal.





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