segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um dia me perguntaram...

Levantei a âncora e estou pronto para partir mais uma vez. As nuvens se abriram e o sol brilha denovo. Por incrível que pareça, a tempestade começou a abrandar não muito tempo atrás, a partir do momento em que uma criança de cinco anos me fez a seguinte pergunta: "Você não sabe sorrir não, é?".
Na hora não dei importância a essas palavras e as ignorei, mas por algum motivo elas continuaram impressas nas profundezas do meu cerebro, vindo a tona enquanto olhava o mar e proporcionando uma epifania assombrosa: eu não tinha motivos para sorrir de verdade, para ter o fantasma da felicidade seguindo meus passos.
O mundo, para mim, está uma merda, as pessoas [pelo menos a maioria] estão cada dia mais vazias e imbecis, a música está sendo gradativamente nivelada por baixo, a arte é ôca e os olhos estão cegos. Mas... e aí? Qué que eu posso fazer pra mudar isso? A vida real é pautada no desejo dos grandes e eu não chego nem na unha encravada do dedão podre de um desses Nephelins* onipotentes.
Fiquei horas a fio encarando o mar com esses pensamentos cavando o chão embaixo de mim, e foi então que a solução se mostrou mais símples e mais ao alcance do que eu jamais havia imaginado: vou viver a minha vida. Não vou mais me lamentar pela mediocridade [literal] do mundo, pela minha insignificância ou pela inferioridade mental daqueles que outrora chamei de babuínos, pois estes nada mais são que produtos do meio em que vivem.
Alguns podem encarar essas palavras como conformismo, desistência, viadagem ou qualquer termo semelhante, e eu sinceramente não ligo [como nunca liguei] pras coisas que disserem sobre e de mim, mas eu encaro esse meu novo olhar como um entendimento do mundo e da realidade [pelo menos aquelas que nós, loucos normais, enxergamos], sem as idealizações e os sonhos desgarrados que alimentei todo esse tempo.

Esse texto é conflitante com tudo o que eu disse até hoje, e ainda assim é análogo. Por isso faço das palavras de Vincent Furnier, vulgo Alice Cooper, as minhas:

"See my lonely life unfold
I see it everyday!
See my lonely mind explode
Since I've gone insane!"

(Ballad of Dwight Fry)

E com isso posso dizer que começo a reaprender a sorrir.

Agora deixe-me fazer uma pergunta: você consegue sorrir sem ironia, sarcasmo, raiva, histeria ou maldade?

Olhe o mar.

E deixe, pelo menos uma vez, sua mente falar sem a censura que você a impõe.




* Nephelins: Gigantes divinos que dominavam a terra antes do início das civilizações, segundo a Bíblia.