sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Grotesco

Brigas comigo
Olhas imponente
Mas por dentro treme
Por dentro chora

Ameaças feitas
Raivas distribuídas
Palavrões ditos
Olhares aflitos

Não desejas acreditar
Não queres ver
Tua idealização de mim caiu por terra
Quebrei teu sonho

Sabes que não sou como querias
Mas te negas a enxergar
Sei que sou o oposto do teu sonho
Sei que sou um canalha

Como um sonho ruin
Gritas para tentar afastar o medo
Mas os gritos não ajudam
Os gritos te afogam em teus sonhos

A verdade só virá com a queda das tuas crenças
Crêdes no impossível
Tentas consertar um erro que não foi teu
Mas não sabes por onde começar

Tendes a achar que verdades são mentiras
Pois a venda ainda não lhe caiu
Tentas regredir aos doces tempos
Em que tua crença não caiu

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

À Deus

Pai Nosso que Estás nos Céus:

Venho, através dessas mal traçadas linhas, expressar minha total descrença em Vossa obra prima, a humanidade. A idéia era boa, confesso, mas o produto final saiu com alguns defeitos gritantes de fabricação, defeitos esses que vêm causando a degradação, a destruição, o corrompimento de seus amados bonecos, digo, filhos. Acho que, em busca de aprimorar a criação e tornar-nos mais... independentes, você acabou por exagerar na dose de egoísmo, canalhice, possessividade e livre arbítrio.
Não é de hoje que os interesses pessoais vem predominando sobre o interesse comum, que deveria ser nosso objetivo. Na Roma Antiga, por exemplo, quantos foram assassinados sob o pressuposto de serem Inimigos do Estado quando, na verdade, eram inimigos apenas de um ou outro senador de maior influência (qualquer semelhança com os dias de hoje NÃO É pura coincidência). Não, Deus, não adianta usar a desculpa de que eles desconheciam a Ti, simplesmente não cola. A Idade Média tá aí e não me deixa mentir... nem a Ti, aliás. Por séculos a Sua Igreja trucidou inocentes de acordo com sua vontade e seus interesses, tudo em Seu nome. E aí, que me diz?
Calma, calma! não precisa ficar nervoso! Cadê aquela tão famosa paciência infinita? Não estou fazendo nada mais que minha obrigação como humano, e, portanto, filho (ou marionete) Seu. Parece que o Senhor anda meio desligado do mundo, sabe? A Terra mergulhou num poço de vícios, crimes e perverções e, sinceramente, acho que já é o momento disso tudo acabar, tá na ora de desligar o som, recolher as drogas, vestir a roupa e acabar com essa rave.
Muito embora eu seja apenas mais um boneco criado por Vossa Divina Vontade (e muito embora essas verdades tenham te deixado puto da vida), não posso negar a o que está aí.

Amém.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

My Dying Bride - The Prize of Beauty




I cannot turn my life unto you.

A storm of ebony hair.
A hail of wickedness.
Handsome as a God.
Wild and shameless.
Given the prize of beauty.
Image of wretchedness.
Divine like no other.
Kiss the poison breast.
Flamed like the sun.
Lives made undone.
Words soft as snow.
Souls claimed and won.
An opiate drugged haze.
Beds of shapeless dust.
Cries all night.
Dreams of my filthy lust.
Lair of hopelessness.
Mires of sorrow.
Never fails.
Our lives are borrowed.
Hold fast my soul.

She waits for me in my dreams.
Every night misery brings.
Haunts my day. Haunts my wake.
Oh, my lord can't you feel her grow,
inside of me. Tearing my mind.
For once my lord please help me
Believe in you.

She claims the day in her name.
Over you and over me.
We dare to be ourselves.
Next to her and all her war.
She comes our way and takes the day,
From my hands, it is her way.

The milk of woman fill up my
Branching veins and lonely heart.
Trembling children she adores,
and gives flight to her art.
When April sheds her fitful rain,
Glory be, we may live again.

Truly my hope will perish within her.
Truly as always I cannot forgive her.
Cruelly she keeps me near to her.
Forever to this day.

sábado, 15 de agosto de 2009

Incertezas

E talvez um dia nós ainda nos vejamos
E conversaremos como tanto já conversamos
Anos talvez se passem
Memórias de dias passados que nunca somem

Talvez o sol que naquele dia brilhou
Ganhe força e ilumine o mundo
Talvez seja coberto por nuvens
Mergulhando na escuridão

Talvez a morte não seja o fim
E a verdadeira vida seja lá, enfim
Talvez a carne apodreça
E com ela nossa vida

Talvez sejamos apenas adolescentes tentando definir a vida
Talvez não haja definição certa
Apenas a lembrança incorreta
De fatos vividos da maneira certa

Talvez eu creia numa melhora
Talvez sonhe com um dia melhor
Talvez escreva poemas melhores
Talvez essa incerteza finde, por fim

domingo, 9 de agosto de 2009

A alienação é LINDA...

A humanidade se prova mais e mais inútil a cada dia que passa.
Só se sabe reclamar, dizer o que tá errado, apontar pra a cara do outro e dizer "a culpa é sua, assuma sua merda!". Ninguem se interessa em tentar mudar as coisas. "Isso é dever dos dirigentes" dizem.
Mas como é que eles vão fazer alguma coisa se, em primeiro lugar, nós não cobramos? Eles não tem ainda o dom da clarevidência, infelizmente.
E outra: como eles vão se mobilizar se essa merda toda daí favorece a eles?
"Ah, mas não é a minha cara esse tipo de coisa..." alguns respondem. É então que eu digo: vão pra a puta que pariu. Como querem exigir mudança sem se pôr a serviço das causas?
Talvez, um dia, quando estiverem morrendo de fome ou de alguma doença incurável, essas pessoas que 'não tem cara' pra levantar a mão e exigir seus direitos saibam abrir a boca e berrar sua linda voz passiva.

sábado, 8 de agosto de 2009

O Artista

Sentiu enorme alívio ao sair do helicóptero. Não só porque os lençóis o sufocavam, mas porque aquilo marcava a conclusão de um sonho. Finalmente, a liberdade.

Esse seria seu grande triunfo, sua grande surpresa para o público.

Nunca ninguém teria tido a audácia de fazer algo igual, será um sucesso! Ele não pode se conter de ansiedade, com certeza depois deste dia ele ficará imortalizado.

"Foi simples arrumar um atestado de óbito e mascarar a situação para enganar o mundo", pensa. Agora todos acham que ele está morto e que sua grande arte foi para o túmulo com ele. Talvez uma maldade, mas que justifica todo o sofrimento pelo qual passou, ou melhor, pelo qual o fizeram passar.

Assiste na televisão toda a comoção causada por sua morte e sente um júbilo maligno por isso, sente-se jovem outra vez, como nos seus bons tempos de sucesso. Não se importa com o sentimento dos fãs, aliás, que fãs? São sequer fãs? Abandonaram-no quando mais precisava, empurraram-no num poço de lodo, vício e difamação, acusaram-no de algo que nunca fizera. Derrubaram-no: de astro virou anjo caído.

"Não preciso do amor de pessoas assim, só do dinheiro e do remorso daqueles que me desgraçaram", ele fala, enquanto assiste, na TV, o mundo parar.

Quer que sintam dor, que sintam culpa; quer ver suas lágrimas, quer ver seu arrependimento, quer ver seus rostos repuxados em esgares de pesar. Acima de tudo, quer que esses sentimentos ajude a vender seus albuns que, por causa da sua queda do paraíso, desapareceram completamente das prateleiras do mercado musical. Uma senhora ironia: aquele mercado que durante anos foi nada mais que seu servo.

Deixa os devaneios e volta à TV. E eles choram e gritam e dançam e imitam e riem e rezam e aparecem e dançam e compram e choram e rezam e riem...

Eles alimentam o seu ego, o seu desejo de vingança, o seu raciocínio frio e suas expectativas. Seu enterro será um sucesso, seus familiares, culpados como todos os outros, farão o papel de mocinhos, de irmãos e filhos chocados e solidários. Esconderão de todos suas verdadeiras faces, seus dentes de sanguessuga e suas línguas bifurcadas, sempre procurando extorquir mais e mais dinheiro dele. Passarão como vítimas de um gênio lunático que acabou por se destruir sozinho em meio a cirurgias plásticas e injeções de analgésicos. Tentaram tomar seus bens, mas aí ele se revelará, aí ele mostrará a grande mente por trás do monstro.

Apresentará um show como nunca viram e, apesar de suas pernas há muito corroídas pela gangrena e dos anos que pesam nas costas, fará a melhor performance artística de sua carreira.

Será, em todos os sentidos, o seu retorno das trevas, seu renascimento.

Pagará suas dívidas, deserdará sua família, queimará os seus títulos e ascenderá novamente aos céus.

***


Eis que chega o grande dia. Preocupa-se com suas dores, mas a ansiedade definitivamente é maior que quaisquer outros sentimentos. Prepara seu banho, arruma-se.

Todo um ritual, como nos velhos tempos. Olha-se no espelho e reconhece os tempos áureos de alguns anos atrás.

Entra no caixão e embarca para sua ressurreição.

***


Enquanto se dirige ao funeral pensa em toda aquela contradição. A culpa lhe toma por alguns instantes, chegando, por alguns segundos, a se arrepender. A mensagem em suas músicas sempre foi positiva, e agora ele forjara a própria morte: um golpe de marketing perfeito e canalha. Enxuga as lágrimas. Percebe que, de certo modo, o direito de vingança lhe foi concedido.

O caixão é apertado, mas sabe que não demorará a sair de seu sepulcro. Em meio às lágrimas de seu antes tão amado público ele renascerá como uma fênix, ele escreverá um novo capítulo na história da música mundial, ficará sempre lembrado como O Imortal.

A música tensa começa, é agora que ele deve sair e respirar outra vez o ar dos palcos.

Força a tampa do caixão, inutilmente.

Sua respiração começa a ficar ofegante. Tenta se tranquilizar: “Não é nada, apenas colocaram muitos arranjos em cima da tampa”.

Tenta mais uma vez. A saída estremece, mas não abre.

Batimentos cardíacos acelerados, respiração ofegante. Tem medo de ficar preso no escuro, tem medo da morte.

Bate descontroladamente contra a tampa do caixão. Chuta, esmurra, grita, esperneia, ninguem o ajuda.

Sente uma dor lacerante em suas pernas: a carne gangrenada se rompera. O sangue macula a roupa, em seus olhos alucinados ele vê a vida que um dia tivera, grita o mais alto que sua voz pode alcançar e ainda assim ninguem o ouve. Suas mãos sangram, não sente suas pernas. Sua voz morre, e com ela o grande artista que fora um dia.